Letra Original:
Liederkreis Op. 24 (Heinrich Heine)
1Morgens steh’ ich auf und frage:
Kommt feins Liebchen heut?
Abends sink’ ich hin und klage:
Ausblieb sie auch heut.
In der Nacht mit meinem kummer
Lieg’ ich schlaflos, wach;
Träumend, wie im halben Schlummer,
Wandle ich Tag.
2Es treibt mich hin, es triebt mich her!
Noch wenige Stunden, dann soll ich sie schauen,
Sie selber, die schönste der schönen Jungfrauen;
Du treues Herz, was pochst du so schwer!
Die Stunden sind aber ein faules Volk!
Schleppen sich behaglich träge,
Schleichen gähnend ihre Wege;
Tummle dich, du faules Volk!
Tobende Eile mich treibend erfasst!
Aber wohl niemals liebten die Horen;
Heimlich im grausamen Bunde verschworen,
Spotten sie tückisch der Liebenden Hast.
3Ich wandelte unter den Bäumen
Mit meinem Gram allein;
Da kam das altem Träumen,
Und schlich mir ins Herz hinein.
Wer hat euch dies Wörtlein gelehret,
Ihr Vöglein in luftiger Höh’ ?
Schweigt still wenn mein Herz es höret,
Dann tut es noch einmal so weh.
«Es kam ein Jungfräulein gegangen,
Die sang es immerfort,
Da haben wir Vöglein gefangen
Das hübsche, goldne Wort.»
Das sollt ihr mir nicht erzählen,
Ihr Vöglein wunderschlau;
Ihr wollt meinen Kummer mir stehlen,
Ich aber niemanden trau’.
4Lieb Liebchen, leg’s Händchen aufs Herze mein;
Ach, hörst du, wie’s pochet im Kämmerlein?
Da hauset ein Zimmermann schlimm und arg,
Der zimmert mir einen Totensarg.
Es hämmert und klopfet bei Tag und bei Nacht;
Es hat mich schon längst um den Schlaf gebracht.
Ach! Sputet Euch, Meister Zimmermann,
Damit ich balde schlafen kann.
5Schöne Wiege meiner Leiden,
Schönes Grabmal meiner Ruh’ ,
Schöne Stadt, wir müssen scheiden,
Lebe wohl ruf’ich dir zu.
Lebe wohl, du heil’ ge Schwelle,
Wo da wandelt Liebchen traut:
Lebe wohl! Du heil’ ge Stelle,
Wo ich sie zuerst geschaut.
Hätt’ ich dich doch nie gesehen,
Schöne Herzenskönigin!
Nimmer wär’ es dann geschelen,
Dass ich jetzt so elend bin.
Nie wollt’ ich dein Herze rühren,
Liebe hab’ ich nie erfleht;
Nur ein stilles Leben führen
Wollt’ ich, wo dein Odem weht.
Doch du drängst mich selbst von hinnen,
Bittre Worte spricht dein Mund;
Wahnsinn wühlt in meinen Sinnen,
Und mein Herz ist krank und wund.
Und die Glieder matt und träge
Schlepp’ ich fort am Wanderstab,
Bis mein müdes Haupt ich lege
Ferne in ein kühles Grab.
6Warte, warte, wilder Schiffsmann,
Gleich folg’ ich zum Hafen dir;
Von zwei Jungfraun nehm’ ich Abschied,
Von Europa und von Ihr.
Blutquell, rinn’ aus meinen Augen,
Blutquell, brich aus meinem Leib,
Dass ich mit dem heissen Blute
Meine Schmerzen niederschreib’.
Ei, mein Lieb, warum just heute
Schauderst du, mein Blut zu sehn?
Sahst mich bleich und herzeblutend
Lange Jahre vor dir stehn!
Kennst du noch das alte Liedchen
Von der Schleng’ im Paradies,
Die durch schlimme Apfelgabe
Unsern Ahn ins Elend stiess?
Alles Unheil brachten Äpfel!
Eva bracht’ damit den Tod,
Eris brachte Trojas Flammen,
Du bracht’st beides, Flamm’ und Tod.
7Berg’ und Burgen schaun herunter
In den spiegelhellen Rhein,
Und mein Schiffchen segelt munter,
Rings umglänzt von Sonnenschein.
Ruhig seh’ ich zu dem Spiele
Goldner Wellen, kraus bewegt;
Still erwachen die Gefühle,
Die ich tief im Busen hegt’.
Freundlich grüssend und verheissend
Lockt hinab des Stromes Pracht;
Doch ich kenn’ ihn, oben gleissend,
Birgt sein Innres Tod und Nacht.
Oben Lust, im Busen Tücken,
Strom, du bist der Liebsten Bild!
Die kann auch so freundlich nicken,
Lächelt auch so fromm und mild.
8Anfangs wollt’ ich fast verzagen,
Und ich glaubt’ ich trüg es nie;
Und ich hab’ es doch getrangen
Aber fragt mich nur nicht, wie?
9Mit Myrten und Rosen, lieblich uns hold,
Mit duft’ gen Zypressen und Flittergold,
Möcht’ ich zieren dies Buch wie’ nen Totenschrein,
Und sargen meine Lieder hinein.
O könnt’ ich die Liebe sargen hinzu!
Auf dem Grabe der Liebe wächst Blümlein der Ruh’,
Da blüht es hervor, da pflückt man es ab,
Doch mir blüht’s nur, wenn ich selber Grab.
Hier sind nun die Lieder, die einst so wild,
Wie ein Lavastrom, der dem Ätna entquillt,
Hervorgestürzt aus dem tiefsten Gemüt,
Und rings viel blitzende Funken versprüht!
Nun liegen sie stumm und toten gleich,
Nun starren sie kalt und nebelbleich,
Doch aufs neu’ die alte Glut sie belebt,
Wenn der Liebe Geist einst über sie schwebt.
Und es wird mir im Herzen viel Ahnung laut:
Der Liebe Geist einst über sie taut;
Einst kommt dies Buch in deine Hand,
Du süsses Lieb im fernen Land.
Dann löst sich des Liedes Zauberbann,
Die blassen Buchstaben schaun dich an,
Sie schauen dir flehend ins schöne Aug’,
Und flüstern mit Wehmut und Liebeshauch.
Tradução para Português:
Ciclo de Canções Op. 24 (Heinrich Heine)
1De manhã levanto-me e pergunto:
Virá hoje o meu amor ?
À tarde deito-me entre lamentos:
Também hoje ela esteve ausente.
De noite deito-me, com o meu desgosto,
em vão buscando o sono;
Sonhando, como que meio acordado,
Vagueio, durante o dia.
2Arrasto-me para trás e para a frente !
Mais algumas horas, e poderei olhá-la,
A ela, a mais bela entre todas as donzelas;
Ó fiel coração, porque bates tão forte !
As horas são, porém, uma multidão preguiçosa !
Arrastam-se devagar, as indolentes,
E, bocejando, retomam o seu caminho.
Andai, ó vagarosa multidão !
Uma impaciência furiosa apodera-se de mim !
Mas jamais as horas conheceram o amor;
Conjuradas em secreta e cruel aliança,
Troçam, com malícia, da pressa dos amantes !
3Vagueei sob as árvores,
Sozinho com a minha mágoa;
Surgiram então os sonhos de outrora
E insinuaram-se no meu coração.
Quem vos ensinou esta palavra,
Ó avezinhas que esvoaçais nas alturas ?
Calai-vos ! Se o meu coração vos escutar
Fá-lo-eis sofrer uma vez mais !
"Uma donzela caminhava,
E vinha cantando sem parar,
Então nós, avezinhas, apanhámos
A linda palavra dourada".
Não devíeis contar-me isto,
Ó aves de astúcia infinita;
Vós quereis roubar o meu desgosto,
Porém eu não o confio a ninguém.
4Minha criança, pousa a tua mão no meu coração;
Ah ! Ouves como bate na sua casa ?
Ali habita um carpinteiro, maldoso e cruel,
Que me constrói um caixão.
Bate e martela durante o dia e a noite;
E já há muito que me roubou o sono.
Ah ! Apressai-vos, ó mestre carpinteiro,
Para que eu possa em breve dormir.
5Belo berço das minhas penas,
Belo túmulo da minha paz,
Bela cidade, devemos separar-nos.
Adeus! Despeço-me de ti.
Adeus, ó umbral sagrado,
Onde passeava a minha bem-amada;
Adeus, ó lugar sagrado,
Onde a olhei pela primeira vez.
Se jamais te houvesse olhado,
Ó linda rainha do meu coração !
Então jamais teria acontecido,
Que eu sofra agora uma tal desgraça.
Nunca desejei tocar o teu coração,
Nunca implorei o teu amor;
Só desejei viver uma vida tranquila,
Em que tu respirasses.
Porém tu mesma me arrastas para longe.
A tua boca profere palavras amargas;
A demência agita os meus sentidos,
E o meu coração está doente e ferido.
E os membros, inertes e abatidos,
Arrasto-os, apoiado na bengala,
Até poder repousar a cabeça exausta
Na frescura longínqua de um túmulo.
6Aguarda, aguarda, ó rude marinheiro,
Seguir-te-ei agora até ao porto;
Devo despedir-me de duas donzelas,
Da Europa, e dela.
Que o sangue corra dos meus olhos,
Que o sangue jorre do meu corpo,
Que eu possa, com sangue ardente,
Escrever os meus tormentos !
Ó meu amor, porquê hoje, justamente,
Tu estremeces à vista do meu sangue ?
Viste-me pálido e de coração sangrando
Durante longos anos, à tua frente !
Não conheces a velha lenda
Da serpente no Paraíso,
Que com a pérfida oferta da maçã
Lançou os nossos avós na desgraça?
Sempre as maçãs trouxeram infâmias !
Com elas Eva trouxe a morte,
Eris trouxe as chamas de Tróia,
E tu trouxeste ambos, o fogo e a morte.
7Montes e castelos olham, em baixo,
O Reno, brilhando como um espelho,
E o meu barquinho voga alegremente,
Envolto na cintilação do Sol ardente.
Observo, tranquilo, o jogo
Das ondas douradas, que se encrespam;
De mansinho, despertam os sentimentos
Que eu guardei no fundo do coração.
Com amáveis saudações, e promessas,
Nos chama o esplendor do rio;
Porém eu conheço-o: brilhando à superfície,
O seu interior esconde a noite e a morte.
Por cima o prazer, no coração a maldade,
Ó rio, tu és a imagem da amada !
Ela sabe acenar assim, tão amável,
E sorrir também, tão doce e cândida.
8No princípio desejei quase o desespero,
E pensei: nunca o suportarei.
Porém, pude suportá-lo,
Apenas não me pergunteis: Como?
9Com mirtos e rosas, de um encanto sem par,
Com ciprestes perfumados e ouropel,
Desejaria enfeitar este livro como um esquife,
E sepultar nele as minhas canções.
Oh! Se pudesse sepultar aí o meu amor !
Sobre o túmulo do amor cresce a flor da paz:
Aí ela floresce, e aí ela é colhida,
Mas para mim só floresce quando eu estiver no túmulo.
Aqui estão pois as canções, outrora tão ardentes,
Como um rio de lava, que jorra do Etna,
Lançado do mais profundo da alma,
Irradiando, em volta, centelhas rutilantes !
Agora repousam mudas, como mortas,
O olhar imóvel, frias e pálidas como a névoa;
Porém, com o novo ardor, o antigo reviverá,
Quando o espírito do amor pairar sobre elas.
No meu coração soam pressentimentos:
O espírito do amor virá dissipá-los;
Um dia este livro chegará às tuas mãos.
Ó doce amor de terras distantes.
Quebrar-se-à então o encanto da canção,
Os pálidos caracteres olham para ti,
Olham, suplicantes, os teus lindos olhos,
E murmuram com melancolia e suspiros de amor.
Tradução de Mariana Portas